A esperança é uma armadura feita de papel

e o papel é a lâmina mais letal que podemos ter em mãos

Luana Silva
2 min readOct 21, 2021
Image by We Heart It.

Semanas atrás, publiquei um livro de ficção sobre a ditadura militar no Brasil. Não, eu não vivenciei o período da ditadura no Brasil — e nem quero vivenciar, diga-se de passagem. Mas antes que você estreite os olhos para este texto, vou me explicar em poucas palavras: eu precisava escrever sobre o passado cruel — e não tão distante — que carregamos. E sendo honesta com você, essa foi a coisa mais difícil que já tive de fazer até o momento.

O enredo do livro havia surgido um ano atrás, numa madrugada de incertezas e reservas quanto ao futuro. A ideia no início era bem simples: apenas escrever sobre o oposto da liberdade, sobre os anos de chumbo. Mas com o passar dos meses, acabou se transformando em um leque sobre assuntos que nos esmagam diariamente, sem que a gente se dê conta.

A estória foi crescendo junto comigo por isso a vontade foi se modificando com o tempo. O novo objetivo era escrever sobre o agora, sobre como somos silenciados sem notar e como nossos direitos são anulados dia após dia, assim como acontecia antigamente. Afinal, opressão que no período da ditadura era escancarada, nos dias atuais é camuflada. Pare de ler e reflita, você também vai notar.

Mas olha só, ainda assim, eu não te enganei pelo título. Mesmo que o pano de fundo da estória seja o céu de chumbo, ou seja, a ditadura, também escrevi com um olhar esperançoso e que inspira resistência. Usar uma armadura de papel significa resistir e desafiar o status quo.

E como fazer isso é sempre um peso, foi duro escrever sobre torturas e mortes. Escrevi a maioria das cenas com um punhado de lenços de papel do lado, admito. Mas cada parte da narrativa foi pensada para reforçar a mensagem de que a arte é um símbolo de resistência. Foi no passado, e hoje também é.

Tudo que o céu de chumbo toca foi o primeiro livro de suspense barra ficção histórica que escrevi na vida. Ele foi o resultado de olhar ao redor sem tanta pressa. Houveram momentos em que eu acreditei ser impossível escrever uma linha sequer, pois escrever sobre a dor é sempre um desafio. Enrolei um ano inteiro para tirar as ideias do caderno e digitar no computador. Até mesmo contra o medo do ridículo precisei batalhar.

E apesar da preocupação de que esse texto soe como uma propaganda de quinta categoria, eu precisava dividir meu processo criativo com você. Espero que não se incomode. Em minha defesa, acredito que no poder da arte de conectar ideias.

Tudo que o céu de chumbo toca está disponível no formato e-book aqui e custa menos que um quilo de arroz.

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Luana Silva
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se você passar pra me ler, traz flores?

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