eu atravessaria uma são paulo inteira só pra te ver

Luana Silva
3 min readFeb 22, 2023

começaram a demolir a casa de azulejos azul mediterrâneo que fica no fim da rua. assisto as retroescavadeiras adentrarem as camadas dela como se fossem tecidos se transformando em centenas de retalhos minúsculos. a estrutura fica por um fio, vulnerável, à mercê de qualquer pequeno impacto.

essa cena atravessa a minha pele também. é como me sinto agora: com os ossos expostos. é que sinto tanto falta sua que penso em te ligar — algo que jurei pra todos os amigos que não faria nem se me pagassem em libras -, só pra perguntar se você já escutou o midnights inteiro, se viu a ópera arame bem de perto na sua ultima ida a curitiba ou se vai no show de despedida do skank em março.

são muitas perguntas sem resposta, e a maior delas é se ainda dividimos a mesma cidade.

tudo o que sei sobre você está nas coisas todas que você deixou pra trás, mas elas também não me dizem nada. são objetos que estavam espalhados pelos cômodos, nos lugares onde você deixou. é como se eles estivessem esperando por você junto comigo no meu apartamento vazio.

aquele exemplar de o amor segundo buenos aires — que eu nunca consegui passar do meio -, os discos do paul simon, esse oceano de fotos nossas e essa camiseta goiaba que fica parecendo um vestido em mim.

não é como se eu estivesse arrasada a ponto de não conseguir rir ao assistir aquele episódio do clareamento dental de friends. é que a tristeza nunca é a causa do eco que sobrou por aqui. a sua ausência pesa nas pequenas coisas.

quero dizer, é esquisito ir a nossa cafeteira favorita no centro sem ter você pra reclamar do cardápio em qr code. ou ter que planejar a próxima viagem sem a sua lista de filmes calminhos pra assistir durante o voo. e saber que não vamos mais dividir as fofocas dos nossos trabalhos no jantar é tão deprimente. nesses momentos, sempre me flagro pensando que, se fosse preciso, eu atravessaria uma são paulo inteira só pra te ver. penso que as coisas mais bonitas resistem quando tudo desaba, acho que é por isso que guardo todos esses detalhes seus como se fossem ouro puro.

e eu sei bem que, a casa de azulejos azul mediterrâneo que a gente planejou morar um dia, se foi. e aquela versão nossa também já não existe. mas saiba que eu não escolheria outra pessoa para me fazer companhia numa casinha térrea antiga de azulejos pintados a mão, nem que me pagassem em libras — e dessa vez estou falando bem sério.

nota: the one de 2023, ufa! tem alguém por aí ainda? se tiver, me mande flores. quero ler vocês também, tô com saudade daqui. esse texto foi inspirado em t-shirts do james smith. nesse início de 2023, as letras do james tem conversado muito comigo. escuto também na esperança de que ele lance logo um álbum novo pelo amor de God!!!!!! enfim, t-shirts é sobre despedidas, itens que são deixados para trás — camisetas & fotos — e a saudade que fica. demorei quase duas semanas pra conseguir escrever esse texto, porque despedidas são coisas que sempre me deixam sem chão. reescrevi várias e várias vezes, de muitos jeitos diferentes e vou postar logo antes que resolva mudar tudo de novo outra vez. obrigada por ler até aqui ♥

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