você não tem ossos de vidro, pode suportar os baques da vida

Luana Silva
3 min readNov 21, 2023

de manhãzinha os passarinhos sempre voam mais tranquilos, pode prestar atenção. desconfio que seja o tom do céu, o azul que atravessa a retina nesse horário é o mais cheio de graça de todos os outros que vêm logo depois.

tudo que se movimenta debaixo desse mesmo céu é uma junção de coisas boas e defeitos que tirariam até o james taylor do sério. não se deixe cair na toca do coelho: até as pessoas que inspiram o seu caminhar vacilam, choram no banheiro, sentem de vez em quando que ninguém quer ler, ouvir, prestar atenção, gostar de verdade (insira seu drama particular aqui) do que elas fazem. elas também têm suas estruturas balançada por certos acontecimentos do passado e pensam bastante no futuro.

é que quase ninguém admite em voz alta a dor que é precisar recomeçar pela décima vez no mesmo mês, saber que só falta um sim pra tudo mudar de figura (o qual, a propósito, parece não vir nunca) ou que precisa se convencer a cada hora que se arrasta pelo calendário que não tem ossos de vidro e que vai suportar os baques da vida.

esteja com os olhos atentos pra perceber que o que nos torna humanos mesmo é essa teia imperfeita e beirar a nostalgia. só nesses instantes, quando se está vulnerável mesmo é que a experiência de ser humano resplandece em alto contraste. e isso é sempre o mais difícil de camuflar.

só peço que nunca se perca a ponto de perceber que você é sempre o movimento do céu. você voa e tem licença poética pra errar, não tenha medo disso. e eu quero mesmo é que você voe.

nota: esse texto se chamava “eu quero que você voe” até dois minutos atrás. é que escrevi ele faz uns dias e agora quando fui reler percebi que ele é tão amélie poulain — filme que nunca consegui passar dos 8 minutos — que se encaixa cem por cento no que vou dizer logo a seguir. sabe, esse texto é inspirado em honeybee, música do the head and the heart que eu fiquei bastante fascinada nos últimos tempos. é uma letra aberta à interpretações, mas que eu gosto de pensar que fala sobre como nossos medos podem podar as nossas asas pra que a gente não consiga alçar voo e como é difícil perceber isso por conta própria. são nesses momentos que as nossas pessoas nos puxam de volta pra superfície e dizem “eu quero que você voe alto, nunca duvide disso [I want you to soar; Don’t doubt anymore] então vá em frente, pelo amor de Deus [cena do fabuloso destino de amelie poulain]”.

escute a versão acústica por aqui :)

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